Tempus fugit
"Quem mata o tempo injuria a eternidade". (Henry David Thoreau) Estamos no limiar de um ano novo, mas o que isso significa? Na prática, a troca de datas no calendário não muda muita coisa, a não ser o fato de que precisaremos ficar mais espertos na hora de preencher cheques. O tempo não muda, hoje é o amanhã de ontem.
Relógios, calendários, agendas e cronômetros não passam de artifícios que nos recordam de compromissos assumidos e carnês de prestações pra pagar. Tentativas pífias de algemar o Tempo, esse bicho esquisito que teima em escapar por entre nossos dedos enrugados. É assim que nos prendemos ao calabouço dos ponteiros, à senzala das agendas, à penitenciária do rádio-relógio que diariamente violenta nossos ouvidos e decapita sonhos antes que saibamos como terminam seus enredos oníricos.
A história de nossos tempos é a saga de uma sociedade de pessoas bocejantes. Indivíduos que dormem cada vez mais tarde e acordam cada vez mais cedo, na necessidade premente de driblar congestionamentos e esticar dias cujas 24 horas mal dão para dar conta de todo o serviço, mastigar decentemente as refeições, ir à academia, lavar a roupa, levar as crianças ao colégio, fazer os deveres de casa, ir à happy hour com o pessoal do serviço, assistir à novela das oito (que só começa às nove), dormir e ter algumas parcas horas de sono antes que o desgraçado despertador toque novamente. Nossos relógios biológicos são reajustados a fórceps. A pressa com que tudo muda faz com que apertemos enésimas vezes o mesmo botão do elevador, zapeemos os canais de televisão sem possível repouso dos olhos, apressemos nossos passos além do nosso ritmo natural, engulamos pedaços mal mastigados de fast food. Poucos fatos simbolizam tão bem a loucura de nossos dias quanto a artrite precoce da ovelha Dolly. É, meus caros: nem a ciência é capaz de retardar a inexorabilidade da natureza. Não se acelera impunemente a passagem natural do Tempo. Tempus fugit. Frente à volatilidade contemporânea, nossos metabolismos escangalhados pedem por uma redinha preguiçosa pra deitar. Este é um dos meus objetivos para 2004: buscar resgatar a capacidade de contemplar os sorrisos extraviados na multidão que atropela a si mesma na digestão precoce do cotidiano.
Escrito por Inagaki às 13h07
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Coelhinho da Páscoa mandou avisar...
 Contudo, a despeito das lorotas que contaram pra você com o intuito de te tapear e fazer com que você parasse de puxar o cabelo da irmãzinha e de queimar formigas no quintal com uma lupa, espero que você tenha se comportado bem em 2003, e que alguém lá em cima saiba reconhecer isso de alguma maneira. Torço ainda para que você não tenha exagerado no chester da ceia desta madrugada, e que você tenha sorrido e feito alguém bacana sorrir ontem, hoje e sempre. Apesar de minha crença em Deus não ser atrelada a nenhuma religião em especial, admiro a figura de Jesus Cristo, e quero acreditar que o espírito da esperança que perpassava as palavras daquele cujo nascimento celebramos hoje não tenha se dissipado em meio a faturas de cartão e reprises de filmes melosos na TV.
P.S. 1: Encaminhei nestes dias um e-mail a todos os meus contatos com o título "Mensagem de Desnatal". Se você não o recebeu, das duas uma: ou o seu endereço está desatualizado, ou a minha desorganização fez com que eu deixasse de cadastrar seu e-mail. Aos que não receberam ainda meu texto, peço um enorme favor: ajude a colocar um pouco de arrumação em meu caótico universo pessoal e escreva-me um e-mail com o subject "Você me esqueceu mas ainda há tempo de te perdoar".
P.S. 2: A quem já recebeu a mensagem e ficou um tanto ressabiado com o tom impessoal da mesma, peço desculpas: nem se contratasse uma secretária eu daria conta de mandar e-mails pessoais a cada um de meus contatos. O devido toque pessoal será dado a partir dos feedbacks que receber de vocês. Aliás, foi este o motivo pelo qual optei por mandar um e-mail em vez de simplesmente postar o texto por aqui: uma das minhas resoluções de ano novo é de restabelecer um contato mais decente com cada um que me escreve. Freqüentar uma academia e ganhar o iBest são outras resoluções que espero cumprir no ano que vem. :)
P.S. 3: Em sua mais recente atualização, o belo site pessoal da escritora Sara Fazib publica alguns textos que escrevi. Clique aqui para conferir minha breve coletânea, mas não deixe de navegar por toda a página, repleta de poemas, contos e artigos de colaboradores da mais fina estirpe.
Escrito por Inagaki às 11h56
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